As Boas Maneiras veio
para quebrar todas as barreiras de amor lésbico, diferenças de classes sociais
e aceitação das diferenças
Este é o segundo
longa-metragem de Juliana Rojas e Marco Dutra, em parceria. O primeiro
longa-metragem deles, Trabalhar Cansa
(2011), foi exibido em Cannes. A verdade é que desde a faculdade na USP em
Audiovisual, mais especificamente na ECA, que ambos frequentam o festival com
seus curtas-metragens.
O fato é que é o
terceiro longa-metragem de Juliana Rojas, seu segundo foi o Sinfonia da Necrópole (2014), cujo ela
dirigiu sozinha e que ganhou o prêmio da crítica no Festival de Gramado, Melhor
Filme da Competição Latino-americana da Federação Internacional da Imprensa
Cinematográfica – FIPRESCI no Festival Mar del Plata e Melhor Filme de
Longa-Metragem e Melhor Interpretação para o Elenco no Festival de Vitória.
Seu
novo filme, As Boas Maneiras, ganhou o Prêmio Especial do Júri no 70º Festival de Locarno, na Suíça. O filme foi muito bem
recebido pelo Indiewire: “O cenário e o alto estilo sugerem uma das retomadas
mais inventivas em um contexto assustador desde O Bebê de Rosemary (1968)”. Além disso, a Variety fez uma longa
entrevista com a Juliana Rojas, o Marco Dutra e a Sara Silveira, produtora do filme
através da Dezenove Som e Imagens.
O filme retrata a
vida de uma babá, Clara (Isabél Zuaa) e sua patroa, Ana (Marjorie Estiano), que
está grávida. A partir daí, elas começam uma relação sexual. Claramente, há
algo estranho com o bebê de Ana e um tom de suspense e terror se instaura.
Tanto o
longa-metragem As Boas Maneiras, como
o Sinfonia da Necrópole, tem uma
ampla crítica social. Assim como havia a questão social e do trabalho em Trabalhar Cansa. No Sinfonia, um
aprendiz de coveiro (Eduardo Gomes) se apaixona por uma agente do serviço
funerário (Luciana Paes) e tem que lidar com seu primeiro emprego no cemitério.
A especulação imobiliária e todo um retrato de sociedade são ilustrados a
partir da especulação das covas e túmulos do cemitério.
Em todos seus
filmes, Juliana Rojas mantém a crítica social, o mistério, a música e o terror,
que muitas vezes é mais psicológico do que o que se costuma encontrar em um
típico filme de terror americano.
Juliana, desde a sua
faculdade na ECA-USP, participou de importantes festivais com seus
curtas-metragens e longas. É uma diretora que tem a atenção do Festival de
Cannes, tendo participado diversas vezes do festival com seus filmes.
Sua filmografia é
extensa e pouco conhecida por completa:
Um Ramo (2007)
e O Duplo (2012) chamam atenção por
seus roteiros originais e inusitados, ambos com tom de terror psicológico, que
revelam aos poucos o que os personagens realmente sentem.
Um Ramo,
dirigido em parceria com Marco Dutra, conta a história de uma mãe de família
que descobre um ramo de folhas saindo do seu braço. Ela arranca e fica
apreensiva pensando o que poderia ser aquilo. Com o passar do tempo, vários
outros ramos aparecem em seu corpo e elas causam feridas. É
realmente perturbador o filme.
O Duplo,
curta-metragem dirigido apenas pela Juliana Rojas, fala sobre a vida de uma
professora que passa a ver o seu próprio duplo, uma pessoa que é exatamente
igual a ela fisicamente, mas que psicologicamente é diferente e às vezes até
brutal. É um filme incrível, com fotografia impecável e atuação e direção, tudo
em seu devido lugar. A partir dos seus
curtas-metragens, já poderia se esperar que os longas de Juliana fossem ser no
mínimo ótimos.
Mesmo com uma
carreira sólida em longas-metragens, Juliana acabou de lançar um curta, A Passagem do Cometa, produzido também
pela Dezenove. O filme é parte de uma série para o Canal Brasil, O Som e o
Tempo. É um episódio sobre uma música dos anos 80, mas acabou sendo distribuído
também como curta-metragem e já entrou no Festival Internacional de
Curtas-metragens de São Paulo e no Festival de Brasília, onde a seleção de
curtas é bastante restrita.
A Passagem do Cometa fala sobre uma mulher (Ivy Souza) que decide fazer um aborto na década
de 80. Mostra desde o momento em que ela chega na clínica de aborto até o
momento que vai embora com sua amiga acompanhante. É um filme forte,
importante, que fala sobre o aborto da maneira que se deve falar sempre,
abertamente, sem preconceitos, com informação. Há uma fala da personagem de Ivy
após ter abortado, ainda na sala de recuperação: “É só que parece que o meu corpo
não é meu.”. Uma ampla crítica à proibição do aborto e o quanto esta escolha
deveria ser das mulheres, e apenas delas, o direito de decidir sobre o seu
próprio corpo.
A Passagem do Cometa ainda tem um elenco matador, além de Ivy Souza, Nana Yazbek, Helena
Albergaria, Mariza Junqueira e a maravilhosa Gilda Nomacce. Isso é uma
característa de Juliana Rojas e do Marco Dutra, usar muitas vezes os mesmos
atores. Gilda Nomacce está presente em quase todos os filmes da dupla e nos
filmes de Juliana.
As Boas Maneiras e A Passagem do Cometa vêm
para consolidar uma carreira já consolidada. Juliana Rojas se desponta como uma das melhores diretoras de cinema do Brasil e do mundo.
E melhor diretora, não apenas entre as mulheres, mas entre todos.
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SERVIÇO
A
Passagem do Cometa no Festival Internacional de Curtas de São Paulo
Mostra
Brasil 7
30/08,
quarta - 17h30 - Cinesesc - Rua Augusta, 2075
31/08,
quinta - 15h - MIS - Avenida Europa, 158
Ingressos
gratuitos, distribuição cerca de 1 hora antes da sessão.