terça-feira, 29 de agosto de 2017

As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra

As Boas Maneiras veio para quebrar todas as barreiras de amor lésbico, diferenças de classes sociais e aceitação das diferenças

Este é o segundo longa-metragem de Juliana Rojas e Marco Dutra, em parceria. O primeiro longa-metragem deles, Trabalhar Cansa (2011), foi exibido em Cannes. A verdade é que desde a faculdade na USP em Audiovisual, mais especificamente na ECA, que ambos frequentam o festival com seus curtas-metragens.

O fato é que é o terceiro longa-metragem de Juliana Rojas, seu segundo foi o Sinfonia da Necrópole (2014), cujo ela dirigiu sozinha e que ganhou o prêmio da crítica no Festival de Gramado, Melhor Filme da Competição Latino-americana da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica – FIPRESCI no Festival Mar del Plata e Melhor Filme de Longa-Metragem e Melhor Interpretação para o Elenco no Festival de Vitória.

Seu novo filme, As Boas Maneiras, ganhou o Prêmio Especial do Júri no 70º Festival de Locarno, na Suíça. O filme foi muito bem recebido pelo Indiewire: “O cenário e o alto estilo sugerem uma das retomadas mais inventivas em um contexto assustador desde O Bebê de Rosemary (1968)”. Além disso, a Variety fez uma longa entrevista com a Juliana Rojas, o Marco Dutra e a Sara Silveira, produtora do filme através da Dezenove Som e Imagens.

O filme retrata a vida de uma babá, Clara (Isabél Zuaa) e sua patroa, Ana (Marjorie Estiano), que está grávida. A partir daí, elas começam uma relação sexual. Claramente, há algo estranho com o bebê de Ana e um tom de suspense e terror se instaura.

Tanto o longa-metragem As Boas Maneiras, como o Sinfonia da Necrópole, tem uma ampla crítica social. Assim como havia a questão social e do trabalho em Trabalhar Cansa. No Sinfonia, um aprendiz de coveiro (Eduardo Gomes) se apaixona por uma agente do serviço funerário (Luciana Paes) e tem que lidar com seu primeiro emprego no cemitério. A especulação imobiliária e todo um retrato de sociedade são ilustrados a partir da especulação das covas e túmulos do cemitério.

Em todos seus filmes, Juliana Rojas mantém a crítica social, o mistério, a música e o terror, que muitas vezes é mais psicológico do que o que se costuma encontrar em um típico filme de terror americano.

Juliana, desde a sua faculdade na ECA-USP, participou de importantes festivais com seus curtas-metragens e longas. É uma diretora que tem a atenção do Festival de Cannes, tendo participado diversas vezes do festival com seus filmes.

Sua filmografia é extensa e pouco conhecida por completa:

 2013 Desculpa, Dona Madama (Curta-metragem) 
 2013 Marcia Barbosa em A Origem da Inspiração (Curta-metragem documentário) 
 2013 A Ópera do Cemitério (TV Movie) 
 2012 O Duplo (Curta-metragem) 
 2011 Pra Eu Dormir Tranquilo (Curta-metragem) 
 2011 Trabalhar Cansa 
 2010 Desassossego (Filme das Maravilhas) (participação como diretora) 
 2009 As Sombras (Curta-metragem) 
 2008 Vestida (Curta-metragem) 
 2007 Um Ramo (Curta-metragem) 
 2006 A Criada da Condessa (Curta-metragem) 
 2004 O Lençol Branco (Curta-metragem) 
 2003 Notívago (Curta-metragem) 
 1999 Dancing Queen (Curta-metragem) (as Ju Rojas) 
 1999 Três Planos, Nove Planos (Curta-metragem) (as Ju Rojas) 

Um Ramo (2007) e O Duplo (2012) chamam atenção por seus roteiros originais e inusitados, ambos com tom de terror psicológico, que revelam aos poucos o que os personagens realmente sentem.

Um Ramo, dirigido em parceria com Marco Dutra, conta a história de uma mãe de família que descobre um ramo de folhas saindo do seu braço. Ela arranca e fica apreensiva pensando o que poderia ser aquilo. Com o passar do tempo, vários outros ramos aparecem em seu corpo e elas causam feridas. É realmente perturbador o filme.

O Duplo, curta-metragem dirigido apenas pela Juliana Rojas, fala sobre a vida de uma professora que passa a ver o seu próprio duplo, uma pessoa que é exatamente igual a ela fisicamente, mas que psicologicamente é diferente e às vezes até brutal. É um filme incrível, com fotografia impecável e atuação e direção, tudo em seu devido lugar. A partir dos seus curtas-metragens, já poderia se esperar que os longas de Juliana fossem ser no mínimo ótimos.

Mesmo com uma carreira sólida em longas-metragens, Juliana acabou de lançar um curta, A Passagem do Cometa, produzido também pela Dezenove. O filme é parte de uma série para o Canal Brasil, O Som e o Tempo. É um episódio sobre uma música dos anos 80, mas acabou sendo distribuído também como curta-metragem e já entrou no Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo e no Festival de Brasília, onde a seleção de curtas é bastante restrita.

A Passagem do Cometa fala sobre uma mulher (Ivy Souza) que decide fazer um aborto na década de 80. Mostra desde o momento em que ela chega na clínica de aborto até o momento que vai embora com sua amiga acompanhante. É um filme forte, importante, que fala sobre o aborto da maneira que se deve falar sempre, abertamente, sem preconceitos, com informação. Há uma fala da personagem de Ivy após ter abortado, ainda na sala de recuperação: “É só que parece que o meu corpo não é meu.”. Uma ampla crítica à proibição do aborto e o quanto esta escolha deveria ser das mulheres, e apenas delas, o direito de decidir sobre o seu próprio corpo.

A Passagem do Cometa ainda tem um elenco matador, além de Ivy Souza, Nana Yazbek, Helena Albergaria, Mariza Junqueira e a maravilhosa Gilda Nomacce. Isso é uma característa de Juliana Rojas e do Marco Dutra, usar muitas vezes os mesmos atores. Gilda Nomacce está presente em quase todos os filmes da dupla e nos filmes de Juliana.

As Boas Maneiras e A Passagem do Cometa vêm para consolidar uma carreira já consolidada. Juliana Rojas se desponta como uma das melhores diretoras de cinema do Brasil e do mundo. E melhor diretora, não apenas entre as mulheres, mas entre todos.


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SERVIÇO

A Passagem do Cometa no Festival Internacional de Curtas de São Paulo

Mostra Brasil 7
30/08, quarta - 17h30 - Cinesesc - Rua Augusta, 2075
31/08, quinta - 15h - MIS - Avenida Europa, 158

Ingressos gratuitos, distribuição cerca de 1 hora antes da sessão.







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